FONTE: BLOG REPÓRTER RENATA CRISTIANE

O vômito do povo por Renata Cristiane

O vômito do povo

Por Renata Cristiane

Claro que não tem nada a ver com centavos a mais na passagem. Mas sim com a cara de pau de tudo. O que ficou subentendido é que tudo no Brasil superou a capacidade de tolerar. E mais: a cara de pau dos políticos provoca ânsia de vômito. E povo está vomitando. 

Vomitando o descaso com transporte público que nos horários que mais precisamos demora a chegar e quando chega, está lotado.Vomitando a mensalidade da escola particular que temos que pagar, pois o ensino público agoniza e ainda pagamos caro por isso. Vomitando a saúde pública que é um escárnio de roubalheira com financiadores infiltrados em partidos políticos aliciando gestores para desvio de dinheiro público que deveria salvar vidas.Vomitando a revolta de trabalhar em vários lugares para ter dinheiro e o governo te roubar 27,5% do salário, além de outas tributações que fingimos não ver para não piorar os níveis de estresse. 

Enquanto isso, os mafiosos políticos em seus partidos que nada mais são que siglas de máfias nivelados pelo desejo insaciável de dinheiro, celebrando bilhões em superfaturamento na reformas de estádios de futebol. E o povo a espera do posto de saúde e creche perto da sua casa. Até porque pegar o ônibus, acaba custando bem caro com o preço da passagem.

Parece que finalmente acordamos. Tomara que não seja fogo de palha. Será o "Outono Brasileiro" numa analogia "Primavera Árabe"?

E a História se repete. E tomara que se repita mesmo. Vendo manifestantes radicais invadindo a prefeitura de São Paulo me lembrou os livros de História descrevendo a Revolução Francesa. Sorte de Haddad que não se usa mais a guilhotina. A humanidade está muito mais pacífica. Talvez seja por isso que os políticos deitam e rolam. Mas cuidado, o povo pode não ser tão domesticado assim. Não chegam a cortar mais cabeças. Mas mostraram bastante disposição para encurralar polícia e invadir prédios públicos com uma rapidez apavorante. 

Revolta do Vintém

E como a História se repete mesmo, mais próximos de nós, temos no final do século XIX, no dia 1º de Janeiro de 1880, a Revolta do Vintém. O antropólogo Roberto da Mata lembrou desse momento em seu artigo no O Globo.(http://www.historiabrasileira.com/brasil-imperio/revolta-do-vintem-no-rio-de-janeiro/). Nessa revolta, também por causa de aumento de tarifa, vidas foram sacrificadas com a repressão das autoridades, mas a passagem não mais aumentou. Isso parece pouco para o que se quer nesse momento. Mas é importante ressaltar que os dois episódios foram motivadas por impostos extorsivos e carestia no custo de vida gerando insatisfação e culminou em revolta. Poderia lembrar diversas outras. Mas isso pouco importa no calor desse instante.

O que importa é que o Brasil é uma país riquíssimo. Por isso, queremos tudo o que temos direito. Hospital de qualidade com médico atendendo gentilmente, eficientemente, rapidamente e ainda sair com medicamentos necessários. A qualquer hora do dia e noite. 

Queremos que os impostos altíssimos que pagamos sejam investidos na educação de base ao superior com qualidade e em horário integral e não em engodo. 

Exigimos segurança pública e não gastar mais com a segurança privada. 

Queremos transporte barato, farto, de qualidade e conforto, inclusive para deficientes. Até quando vamos admitir essa máfia das empresas de transporte dominando o jogo político?
Queremos compromisso com meio-ambiente e um governo sustentável. De verdade! Igualdade para todos. De verdade também. Aos negros, homossexuais, mulheres e deficientes. Esses políticos que aí estão, não nos representam. 

Estamos exaustos. 

Minha geração rompeu com o velho e colocou o operário no poder. Agora, Lula e seu grupo se igualaram aos demais velhos do poder. É chegada a hora de mudar. Virar a mesa outra vez. Fico feliz que a geração "Y" esteja pilotando essa revolta e que a rede social seja o novo arauto desse levante generalizado.

E pra quem acha que esse movimento é uma grande tolice. Não tenha tanta certeza prévia. E peçamos a Deus que tudo isso não vire anarquia completa, mas uma oportunidade de mudança para o rumo que pretendemos e merecemos. 
Afinal, somos um país rico. Muito rico. Não esqueçamos disso.

* Renata Cristiane é jornalista, historiadora e também indignada.